Arte na Fase: Caminho para a reintegração
Publicação:
Texto: Elina Hornes
Fotos: Júlia Klein
A Fundação Atendimento Socioeducativo (Fase), instituição vinculada à Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social (SJDS), com o objetivo de reintegrar seus reeducandos à sociedade, vem adotando um novo conceito de trabalho.
Responsável pela execução das medidas socioeducativas de Internação e Semi-liberdade determinadas pelo Judiciário a adolescentes autores de atos infracionais, a Fase, ao longo desses anos, tem apresentado resultados positivos, servindo de modelo para outros estados.
A mudança de nome (antiga FEBEM) e de atuação de medidas socioeducativas, parecem ter tirado o estigma que a acompanhava. Hoje, os internos participam de cursos, oficinas e trabalham, como forma de integrar-se à sociedade. Graças a esta nova filosofia, os jovens, quando alcançam a liberdade, estão preparados para o mercado de trabalho.
O que é o Centro de Convivência
Coordenado por Zoraide Testa, o Centro de Convivência é um espaço que oferece oficinas aos adolescentes que cumprem medida de internação, mas com possibilidade de realizar atividades fora de suas unidades. Funcionando junto à sede da Fundação (Av. Padre Cacique, 1.372), é composto por sete salas para oficinas, auditório, videoteca e biblioteca.
Mesmo com as dificuldades financeiras da administração pública, Zoraide não desanima. Conta que o o trabalho vai se desenvolvendo aos poucos e a busca de parcerias é feita de modo constante. "Para que as oficinas funcionem, tivemos a ajuda da Fundação Dunga. Foi o técnico da Seleção brasileira de futebol, através de sua Fundação, quem deu o pontapé inicial para que pudéssemos montar as oficinas e, assim, oferecer cursos de informática; velas artesanais; sabonetes; pintura em tecido e textura em tela, jardinagem e meio ambiente; história em quadrinho e bonecas de pano. Cada oficina que se consegue montar, é como se subíssemos degraus de uma grande escadaria”, conta.
Expectativas dos reeducandos
Meninos e meninas que participam de atividades variadas no Centro de Convivência são trazidos de unidades da Capital. Em Porto Alegre funcionam seis unidades, enquanto outras dez estão espalhadas pelo Interior.
Todos concordam que as novas atividades têm dado outro sentido às suas vidas. S., uma jovem de 16 anos, participa da oficina de pintura em tecido, atividade que vem trazendo novas perspectivas a seu dia-a-dia. “Parece que descobri um mundo novo. Saio da minha unidade e venho para o Centro, onde faço minhas pinturas em tecido. Combinei com minha irmã que, quando eu sair da Fase, vamos trabalhar juntas”, diz. S. está internada por ter participado de assalto a posto de gasolina e acredita que fazer o curso foi importante para mudar sua forma de ver e querer viver a vida. “Antes a gente só ficava lá (na Unidade), sem ter o que fazer. Agora, não; estou fazendo um coisa boa, que vai melhorar minha vida lá fora”, afirma a menina.
Os meninos também demonstram gostar do que estão aprendendo. No curso de sabonetes artesanais, M., também com 16 anos, mostra seu empenho em aprender tudo o que a professora Lizandra Kraus explica. Alguns deles já estão em condições de dar aulas, diz a professora, que há seis anos trabalha na instituição.
Segundo a professora de velas artesanais, Dalva Romariz, há nove anos na Fundação e seis ministrando cursos, “o mais gratificante é ver a elevação da auto-estima destes adolescentes e sua valorização como ser humano capaz de produzir algo bom”.
Joseane Nunes, há três meses ensinando pintura em tecido na Fase, gosta de ouvir a conversa das meninas enquanto pintam. “Assim, pude descobrir o que elas pensam. Foi muito bom ouvi-las fazendo planos, querendo fazer tudo de bom que estão aprendendo. Sonham em fazer artesanato para vender e ter seu próprio rendimento”.
Novos projetos
Se a gurizada cumprindo medida de internamento sonha, a coordenação do Centro de Convivência vai além. Zoraide procura parceria para criar novas oficinas. As Lojas Multisom já ofereceram violões e, muito breve, vão começar as aulas. Está sendo implementado ainda um curso de confeitaria, visando qualificar e profissionalizar esses jovens. O auditório, agora vazio, brevemente deverá ser utilizado num curso de teatro. O importante é manter essa turma ocupada para aprender a reescrever sua história de vida.