Governo do Estado do Rio Grande do Sul
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"O cuidado na primeira infância é o melhor investimento que uma sociedade pode fazer"

Publicação:

Texto: Carmem Barcelos

 
Alessandra Schneider está na função de Coordenadora do Escritório Antena da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Rio Grande do Sul desde 2004, quando o escritório foi criado em Porto Alegre. Atua como especialista em Educação Infantil da representação da Unesco no Brasil. É graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem especialização em Saúde Perinatal, Educação e Desenvolvimento do Bebê, com ênfase em zero a três anos, pela Universidade de Brasília. Fez curso de Aperfeiçoamento em Desenho e Gestão de Programas e Políticas Sociais pelo Instituto Interamericano para o Desenvolvimento Social - INDES, em Washington (EUA), e de Aperfeiçoamento em Desenvolvimento Infantil e Intervenções pelo Centro Internacional de Saúde da Criança, da Universidade de Londres, Inglaterra. Trabalhou como Oficial de Projetos do Setor de Educação da Representação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO no Brasil, de 2001 a 2003. Confira a entrevista:
 
 
Imprensa SJDS - Quais os projetos que o Escritório da Unesco desenvolve no Rio Grande do Sul atualmente?
Alessandra Schneider - A Unesco possui, ao todo, oito projetos em execução no Estado. Há cinco acordos de cooperação com o governo do Estado. No campo educacional, em parceria com a Secretaria da Educação, um projeto estratégico está sendo implementado: o Escola Aberta para a Cidadania.  No campo da educação para a saúde, há quatro projetos-bandeira: Promoção do Desenvolvimento Integral da Primeira Infância; Plano de Ações e Estratégias em Saúde Pública para o controle às DSTs e ao HIV/AIDS; Apoio à implementação da Estratégia Saúde da Família nos municípios do RS; e Apoio ao Fortalecimento da Escola de Saúde Pública. Com a administração municipal de Porto Alegre, a Unesco possui um projeto de cooperação técnica: Implantação da Governança Solidária Local no município de Porto Alegre: Estratégias para a promoção da Inclusão Social.A Unesco implementa, ainda, dois outros programas no Estado: o Escola Aberta Mec - Unesco, desenvolvido em 25 municípios da região metropolitana, e o Fundo do Milênio para a Primeira Infância, em colaboração com o terceiro setor e a iniciativa privada, os quais também contribuem para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul.

Imprensa SJDS - De onde vêm os recursos para executá-los?
Alessandra -
Os projetos de cooperação técnica internacional que são implementados em parceria com o Executivo são financiados com recursos públicos, do tesouro do Estado ou do Município, conforme o caso.

Imprensa SJDS - Qual o investimento financeiro da Unesco no Estado?
Alessandra -
A Unesco não é uma agência de financiamento, portanto o que ela aporta aos parceiros governamentais não são exatamente recursos financeiros, mas sua vasta expertise nas áreas de Educação, Ciências Sociais e Naturais, Cultura, Comunicação e Informação.  O principal capital da Unesco, como agência especializada do Sistema Nações Unidas, é a assessoria e a cooperação técnica para o desenvolvimento, implementação, monitoramento e avaliação de políticas e programas alinhados às suas áreas de mandato e aos temas prioritários na agenda internacional. Por exemplo, em 2003, foi lançada internacionalmente a Década das Nações Unidas para a Alfabetização, tendo a Unesco como agência-líder. No mesmo ano e em consonância com a referida Década, foi assinado Acordo de Cooperação Técnica entre a Unesco e a Secretaria Estadual de Educação para a implantação do projeto Alfabetiza Rio Grande que visa combater o analfabetismo no Estado da população urbana e rural de 15 anos ou mais, além de assegurar oportunidades de continuidade dos estudos, em nível fundamental e médio.  O projeto, de 2003 a 2006, capacitou os alfabetizadores e professores da rede estadual de ensino, visando à melhoria da qualidade da educação, em parceria com 29 Instituições de Ensino Superior públicas e privadas, descentralizadas em 50 campi. Cumpre salientar o importante impacto produzido pela contratação das Instituições de Ensino Superior das diversas regiões, tanto no desenvolvimento de um plano de formação continuada dos recursos humanos envolvidos na educação de jovens e adultos, quanto no significativo aumento da produção de estudos e pesquisas na área, provocando incremento da qualidade do ensino oferecido nessa modalidade, bem como a sua inclusão nos cursos de formação das próprias instituições. Todas essas ações tiveram impacto na redução do analfabetismo no Estado que, em 2004, segundo o IBGE (PNAD), atingiu 5,5%, indicando uma diminuição de 0,8% em relação a 2002.

Imprensa SJDS – Como é feito o acompanhamento do resultado das ações no RS?
Alessandra -
Inicialmente, a equipe de especialistas do Escritório Antena da Unesco no RS articulado com a Representação Nacional realiza o acompanhamento e assessoramento técnico sistemático às equipes executoras dos projetos de cooperação técnica em implementação no Estado. Além disso, a Unesco sempre propõe aos parceiros a realização de avaliações externas fomentando o registro e a disseminação de boas práticas.
 
Imprensa SJDS - Desde 2004, o Rio Grande do Sul é um dos cinco Estados brasileiros a possuir um escritório da Unesco. O que aconteceu de lá para cá?
Alessandra -
A instalação do Escritório Antena da UNESCO no RS, oficializada em 28 de julho de 2004, vem dando maior visibilidade e disseminação ao arcabouço de estudos, pesquisas, relatórios e declarações produzidos pela UNESCO no Brasil e em outros países do mundo, oportunizando à sociedade gaúcha e parceiros estratégicos a apropriação destes documentos e sua utilização na formulação de políticas, programas e projetos em âmbito governamental e não-governamental.  A Organização vem também consolidando cada vez mais sua presença no Estado do Rio Grande do Sul,por meio de acordos de cooperação técnica com o Governo do Estado do RS, com prefeituras, sociedade civil organizada e iniciativa privada. Dessa forma, vem conquistando mais credibilidade e respaldo junto à opinião pública, os parceiros e a mídia.

Imprensa SJDS – Por que é importante investir na primeira infância e quais as conseqüências na vida adulta dos indivíduos quando este cuidado se faz presente?
Alessandra - Hoje sabemos que os primeiros anos de vida são críticos para a formação das competências e habilidades humanas. É neste período, e especialmente até os três anos de idade, que a criança aprende com mais intensidade a aprender, a se relacionar, a fazer e a ser. 90% das conexões entre os neurônios são formadas até os três anos de idade, a partir do contato do bebê com os estímulos do ambiente e da sua interação positiva com seus cuidadores. E educação e a estimulação adequada neste período são fundamentais. A oferta de programas de qualidade de educação e cuidado na primeira infância é o melhor investimento que qualquer sociedade pode fazer, pelos benefícios que produz em termos de capital humano, capital social e econômico. Inúmeras pesquisas internacionais têm demonstrado que a educação infantil de qualidade, isto é, o atendimento em creches e pré-escolas para as crianças de zero a seis anos de idade, é um investimento que gera inúmeros impactos positivos a curto, médio e longo prazo e que de longe superam os custos necessários para prover estes serviços. Entre os impactos verificam-se: menores taxas de evasão e repetência durante a escolaridade obrigatória; maiores chances de completar o ensino médio; e aumento na renda futura foi verificado entre aqueles que tiveram acesso à educação infantil de qualidade em comparação aos que não tiveram esta oportunidade.
 
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